sábado, 19 de julho de 2014

a beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável


A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente 
(Rubem Alves)

Aprendi muitas coisas com Rubem Alves.
Nos livros, nos encontros, nas conversas. Aprendi em seus olhares, suspiros e silêncios. Aprendi sobre educação e deseducação de crianças, sobre cabeças adultas, sobre a velhice, sobre a aproximação da morte, sobre as ameaças da vida...
Ele era uma pessoa feita de bons princípios e cheia de amor ao próximo. Homem de praticidades também: enquanto eu lhe mandava cartas pelo correio, ele me respondia por email. Eu pedia para ele escrever um artigo, ele sugeria gravar um vídeo. Pedi chá à tarde, quis abrir uma garrafa de vinho.

Quando o conheci pessoalmente, fiquei maravilhada com a sua presença. Prisma.
Vidrada, olhos parados enquanto ele conversava e contava coisas cotidianas na roda. O tempo passando pela conversa e eu imóvel, com atenção absoluta em suas mãos, suas maneiras, seus modos de homem gentil e elegante. Depois de um tempo, ele foi me observando e prestando atenção na minha atenção contou simpática historinha:
- Um tempo desses atrás, entrei no metrô e uma moça ficou me olhando. Me enfiei na leitura do jornal dobrado, mas percebi que ela continuava me olhando. Dei um sorriso, ela correspondeu. Me animei, equivocado, com o flerte e me aproximei. Quando cheguei perto, ela educadamente levantou e me ofereceu o lugar: “O senhor quer sentar?”. Você está me olhando com os mesmos olhos que ela e eu já estou sentado...

O Rubem tinha bom humor, era rápido de raciocínio e surpreendente em comentários. Todas as oportunidades que tive de estar com ele foram prazerosas, encontros significativos que me enriqueceram e sempre, sempre, sempre me acrescentaram novos pensamentos: Trem Noturno para Lisboa, psicanálise, Vermeer, Agostinho, flores, direção perigosa, solidão e uma infinidade de assuntos – todos bordados por seus pensamentos construídos num misto do que aprendia nos livros e do que vivia e observava.

Há alguns anos, perguntei se tinha medo de morrer. “Não, Adriana, tenho pena de morrer”. É uma pena mesmo!

Rubem, foi um grande prazer tê-lo conhecido!

aqui em casa, lá na casa dele e passeando em Campinas


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