terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

De chuva, de amizade, de amor e de outras coisas



Quando eu era criança tomava banhos intermináveis de chuva. Não sei quantos foram, não tenho a contabilidade, mas lembro de muitos. Lembro do Zé e eu em algazarras inesgotáveis debaixo de grandes torós. Meu irmão me fazia muito feliz, ele sabia aproveitar a chuva e me ensinava a perder o medo de ir correndo da calçada até a beirinha, no começo da grama, e me jogar e escorregar e fazer do campo verdinho um tapete macio, que melhorava a queda ao mesmo tempo que empurrava pra frente. Íamos correndo e nos atirávamos na grama para escorregar: de bunda, de peito, de lado, de qualquer jeito, dependia do jeito em que caíamos.
Nós corríamos pelas ruas, não passavam carros porque ninguém se arriscaria a dirigir no meio das tempestades de verão, parávamos debaixo de calhas que se transformavam em cachoeiras, deitávamos no chão e por fim, acabávamos com vassoura nas mãos e sabão em pó, lavando a calçada, churrasqueira e áreas livres da casa da minha infância.
Nós éramos munidos pelo combustível da diversão. Minha irmã, pequena, olhava pela janela e nós não sentíamos o peso da tristeza dela por não poder participar daquele momento nosso, só nosso. Dávamos voltas pela casa, brincávamos de pega-pega. Nunca de esconde-esconde, porque acho que meu irmão, mais velho que eu, não me deixaria longe dos olhos dele, não sei se por recomendação da minha mãe ou se por um sentido de responsabilidade fraternal.
O mundo, feito de água e raios, nos pertencia.
Ontem choveu muito aqui. Choveu a mesma chuva de quando eu era criança. Observei os 15 minutos de água, vento e trovoadas da janela, respirando aquele cheiro e sentido os respingos, trazidos pelo vento, no rosto.
Uma preocupação ou outra da vida adulta (será que fechei a janela do quarto? será que as crianças estão bem? será que tem goteira em cima da TV de volta? será que minha mãe está em casa?) e fechei os olhos para aproveitar aquela montoeira de sensações e lembranças.
Quando a chuva passou, veio um desentendimento, uma rusga, que acabou em briga, choro – que não quero contar.
A conclusão? As águas da infância trazem uma coisa, as águas da vida adulta, outra. Se muita água passa por debaixo da ponte da vida, é bom saber aproveita-las de sol a sol.
Se chover hoje juro que surpreenderei o verão e me mando pra rua, como se ainda tivesse 8 anos ou 10 ou 12 ou 39!  

7 comentários:

  1. Eu gosto tanto da maneira que você escreve!
    Você devia ter me contado que tem um blog, não fosse a fofoca da Ana eu nunca ia ficar sabendo.
    Um beijão, querida
    Roberto

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    1. afff!
      não é para ficar corrigindo meus textos...
      beijo, obrigada pela visita!

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  2. Texto de muita ....atmosfera.
    Bom de ler, bom de sentir.

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  3. A tua cara tudo isso.

    Morri de inveja da chuva da sua infância e do seu irmão, principalmente. Nunca tive um. De chuva eu gosto até hoje, embora nunca tenha singado in the rain (o que sempre desejei, porém).

    Maneirissimo.

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  4. Respostas
    1. To tentando, to tentada. Mas há restrições a serem vencidas ainda.
      Beijo, obrigada pela visita.

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  5. em outros canais ficou assim:


    Adriana Sydor oi Leyna, tudo certo por aí?


    Leyna Almeida Oi, Adriana Sydor! Tuuuudo certo. Curtindo esse feriado de chuva... E vc?


    Sylvia Abaurre Muito bom texto. Me deu vontade de tomar de tomar chuva para lavar a alma e o estômago. Nada como chuva forte em algumas ocasiões, né não? Me trouxe um pouco de volta também a saudade do meu irmão, uma saudade boa, sempre!


    Adriana Sydor Sylvia, esse é um texto antigo, mas sempre muito atual, muito verdadeiro. grande momento da infância!


    Sylvia Abaurre Quero minha infância de volta...


    Adriana Sydor to por aqui, Leyna, tão quieta que nem sei...


    Márcia Falkowski Doce amiga, Adriana Sydor, hoje você esteve muito presente na minha manhã: da chuva, ao Mia, ao Paulinho, ao Noel... aos seus mil compassos. Começo meu dia com a alma tocada, leve e lembrando vividamente da menina-mulher doce e sorridente que eu trouxe (boas artimanhas da vida) para perto de mim na primeira vez em que a vi (lembra-se lá no Posita?). Por aqui as nuvens fazem chover boas lembranças, saudades, carinho... que bons ventos as levem até você, meu Amor! Beijos


    Adriana Sydor boas águas... que delícia de declaração, que presente bom, que privilégio! Márcia Lelê, você é sempre ótima comigo, pra mim. um beijo grande e obrigada por me fazer sentir assim!


    Leyna Almeida Adriana Sydor, tbm estou por aqui. Quieta durante boa parte do tempo.
    Saudades de vc.


    Márcia Falkowski O presente você quem me deu esta manhã, mesmo sem saber, e naquela manhã no posita. Adri, você é ótima! Não há o que agradecer, Adriana Sydor, é sinceros e fluiu apenas. Beijão

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